Paralisia Cerebral

O termo Paralisia Cerebral descreve:
Um grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura causando limitação na atividade, que é atribuída aos distúrbios não progressivos que ocorrem no desenvolvimento fetal ou num cérebro imaturo. As desordens motoras da Paralisia Cerebral são frequentemente acompanhadas de alterações da sensação, cognição, comunicação, perceção, comportamento, epilepsia e problemas músculo-esqueléticos secundários (Rosenbaum, Paneth, Leviton, Goldstein & Bax, 2007).
A incidência mundial da Paralisia Cerebral é de aproximadamente 2 a 2,5/1000 nados-vivos (Kumari & Yadav, 2012), sendo que, em Portugal, os dados mais recentes recolhidos nos Censos 2001, apontam para a existência de 15 009 pessoas com Paralisia Cerebral (PORDATA, 2001). O impacto que a PC pode ter na vida das pessoas, conduz à existência de dificuldades ligeiras até limitações severas na participação do seu dia-a-dia, que se refletem ao longo da sua vida.

A Paralisia Cerebral pode assumir diferentes tipos

Atualmente, é consensual que o nível de participação, envolvimento e funcionalidade da pessoa com Paralisia Cerebral depende, para além da sua condição, das oportunidades que o meio envolvente lhe proporciona, assumindo-se este como um fator primordial na qualidade de vida. Esta perspetiva, enfatizada pelo Modelo Biopsicossocial, que salienta a importância da reunião das diferentes dimensões da saúde (biológica, individual e social), constitui-se como uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que se encontra espelhada na criação da Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), aprovada em 2001 pela ONU, sendo indicada a sua utilização pela OMS.

A heterogeneidade das perturbações abrangidas pelo termo Paralisia Cerebral, bem como os avanços atuais da investigação na compreensão do desenvolvimento humano, enfatizam a importância da neuroplasticidade na intervenção com estes indivíduos. Tendo em conta que nos primeiros anos de vida a plasticidade cerebral é maior, torna-se urgente uma intervenção precoce. Esta, tem um papel determinante, no sentido de minimizar as consequências decorrentes da lesão e promover a reorganização cerebral, com o desenvolvimento das funções associadas às áreas afetadas (Argüelles, 1996; Bax, 2000; Miller & Bachrach, 2006).

A Paralisia Cerebral pode afetar diferentes partes do corpo

Assim, os programas de intervenção precoce contemporâneos, alicerçados numa abordagem bioecológica do desenvolvimento humano, realçam a necessidade de serem considerados os aspetos específicos do desenvolvimento da pessoa, para além de enfatizarem o ambiente onde esta está inserida (família e comunidade), possibilitando uma análise contextualizada do seu desenvolvimento e o impacto do mesmo nos seus contextos de vida. Este processo de (re)habilitação deve ser perspetivado de forma contínua, individualizada e adaptada para cada fase da vida.

Assim, a literatura contemporânea que discute os serviços de reabilitação para as pessoas com Paralisia Cerebral, destaca três importantes conceitos:
  • Ênfase nos serviços centrados na família, que encorajem a tomada de decisões de um modo colaborativo entre a família, a criança e os profissionais, e transmitam respeito pela autenticidade de cada situação de vida familiar;
  • Ênfase em objetivos terapêuticos que se foquem no sucesso da criança em completar atividades funcionais que sejam significativas para a criança e para a família;
  • A Paralisia Cerebral é uma condição de vida e não apenas uma condição da infância com importantes transições ou períodos de mudança ao longo da vida (Darrah, Wiart, Magill-Evans, Ray & Anderson, 2010).
No que se refere à valorização da abordagem centrada na família, importa referir que esta é, atualmente, reconhecida nos serviços especializados de intervenção pediátrica, como a mais eficaz (Almasri et al., 2011; King et al, 2004; Lotze, Bellin & Oswald, 2010). Integra uma visão holística, individualizada e dinâmica da prestação de apoio, com valorização das forças, recursos e necessidades de cada família (Dunst, Trivette, Cornwell & Davis, 1994), num processo colaborativo entre pais e profissionais, com partilha de objetivos, informações e responsabilidades (Granat, Lagander & Borjesson, 2002; Neff et al., 2003).

A Paralisia Cerebral poderá co-ocorrer com outras problemáticas

Deste modo, é crucial um serviço pluridisciplinar que combine os saberes técnicos especializados de forma a fazer uma abordagem compreensiva às necessidades do indivíduo com PC e sua família (Buran, Sawin, Grayson & Griss, 2009). Inerente a esta, torna-se fundamental considerar os diferentes papéis assumidos pela pessoa com PC nos seus contextos de vida, no sentido de otimizar a sua participação nos mesmos, tendo em conta as diferentes etapas no seu ciclo vital.

Em consonância com o referenciado anteriormente, importa ainda mencionar que, estudos recentes realizados em populações com Paralisia Cerebral, apontam no sentido de que abordagens que integram terapias intensivas poderão não ser recomendadas para este tipo de população, principalmente se descontextualizadas das suas reais necessidades (Andrada, 2003).

Fontes
Textos
Almasri, N. A., Palisano, R. J., Dunst, C. J., Chiarello, L. A., O`Neil, M. E. & Plansky, M. (2011). Determinants of needs of families of children and youth with Cerebral Palsy.
Andrada, M. G. (2003). Paralisia Cerebral - Etiopatogenia/Diagnóstico/Intervenção. Arquivos de Fisiatria, 37, pp. 5-16.
Argüelles, P. (1996). Parálisis Cerebral. In M. Puyuelo, P. Póo, C. Basil, e M. Métayer (Orgs.), Logopedia en la Parálisis Cerebral: Diagnóstico y Tratamiento (pp. 1-16). Barcelona: Masson. Bax, M. (2000). Aspectos Clínicos da Paralisia Cerebral. In N. Finnie (Orgs.), O Manuseio em Casa da Criança com Paralisia Cerebral ( pp. 8-18). São Paulo: Editora Manole. Buran, F., Sawin, K., Grayson, P. & Griss, S. (2009). Family Needs Assessment in Cerebral
Children with Cerebral Palsy and their Families: A review of the Literature. Seminars in
Children`s Health Care, 40 (2), 130-154. Darrah, J., Wiart, L., Magill-Evans, J., Ray, L. & Anderson, J. (2010). Are family-centred principles, functional goal setting and transition planning evident in therapy services for children with cerebral palsy?Child: Care, Health and Development, 38 (1), 41-47.
Development, 28, 459-467. Dunst, C. J., Trivette, C. M., Davis, M., & Cornwell, J. (1994). Characteristics of effective helpgiving practices. In C. J. Dunst, C. M. Trivette & A. G. Deal (Eds.), Supporting and strengthening families: Methods, strategies and practices. (pp. 171-186). Cambridge: Brookline Books.
Granat, T., Lagander, B. & Borjesson, M. C. (2002). Parental Participation in the habilitation process – evaluation from a user perspective. Child: Care, Health and
King, S., Teplicky, R., King, G. & Rosenbaum, P. (2004). Family-Centered Service for
Kumari, A. & Yadav, S. (2012). Cerebral Palsy: a mini review. International Journal of Therapeutic Applications, 3, 15–24.
Lotze, G. M., Bellin, M. H. & Oswald,D. P. (2010). Family-Centered Care for Children With
Miller, F., e Bachrach, S. (2006). Cerebral Palsy: A Complete Guide for Caregiving (2ª Ed). Baltimore: Johns Hopkins University Press. 
Neff, J., Eichner, J., Hardy, D., Klein, M., Percelay, J., Sigrest, T. et al (2003). Family Centered care and the Pediatrician´s role. Pediatrics, 112, 691-696.
Palsy Clinic. Journal for Specialists in Pediatric Nursing, 14 (2), 86-93.
Pediatric Neurology, 11 (1), 78-86. Rosenbaum, P., Paneth, N., Leviton, A., Goldstein, M., & Bax, M. (2007). Definition and classification of cerebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology, 49 (S109), 8–14.
Special Health Care Needs: Are We Moving Forward? Journal of Family Social Work, 13 (2), 100-113.

Imagens: As imagens utilizadas encontram-se disponíveis numa infografia elaborada no âmbito do Dia Mundial da Paralisia Cerebral (worldcpday.org).